Fitofisionomias

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Bioma Cerrado

O bioma Cerrado abrange uma área de aproximadamente dois milhões de km², situado entre as coordenadas de 5º e 20º de latitude Sul e 45º a 60º de longitude Oeste, com a maior parte de sua área localizada no Planalto Central do Brasil. A região dos Cerrados se estende de forma contínua pelos estados de Goiás e Tocantins, o Distrito Federal, parte dos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rondônia e São Paulo e, ainda, em áreas disjuntas nos estados do Amapá, Amazonas, Pará e Roraima, e ao sul, no Paraná (RIBEIRO & WALTER, 1998). Historicamente a vegetação do Cerrado é condicionada pelo clima, características físico-químicas do solo, fogo, profundidade do lençol freático e mais recentemente, por atividades antrópicas como criação de gado, desmatamento e agricultura (RIBEIRO & WALTER, 1998 apud FUNATURA, 2011).

Mosaico de fitofisionomias do cerradoA noção de "Cerrado" tem sido usada tanto para designar tipos fitofisionômicos (tipos de vegetação) quanto para definir formação ou categorias fitofisionômicas (formas de vegetação). Também pode estar associada às características estruturais ou florísticas particulares, encontradas em regiões específicas. A vegetação do bioma Cerrado apresenta fisionomias que englobam formações florestais, savânicas e campestres (RIBEIRO & WALTER, 1998). Segundo EITEN (1994, apud RIBEIRO & WALTER, 1998) as demais formas fisionômicas do Cerrado dependem de três aspectos do substrato: a fertilidade e o teor de alumínio disponível (baixa fertilidade, altos teores de alumínio); a profundidade do solo; e o grau de saturação hídrica das camadas superficiais e subsuperficiais do solo. Na região do Projeto Corredor Ecológico da Região do Jalapão, as fitofisionomias de Cerrado são as seguintes:


Cerrado Típico (Sentido Restrito)

O Cerrado sentido restrito caracteriza-se pela presença de árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares e retorcidas, e geralmente com evidências de queimadas. Os arbustos e subarbustos encontram-se espalhados, com algumas espécies apresentando órgãos subterrâneos perenes (xilopódios), que permitem a rebrota após queima ou corte. Na época chuvosa os estratos subarbustivo e herbáceo tornam-se exuberantes devido ao seu rápido crescimento.

Cerrado Sentido Restrito, localizado no Parque Estadual do Jalapão.

Figura 1 - Cerrado Sentido Restrito, localizado no Parque Estadual do Jalapão.

Porção de Cerrado Sentido Restrito localizado na Bahia, nas adjacências da Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, TO.

Figura 2 - Porção de Cerrado Sentido Restrito localizado na Bahia, nas adjacências da Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, TO.


Os troncos das plantas lenhosas em geral possuem cascas com cortiça grossa, fendida ou sulcada, e as gemas apicais de muitas espécies são protegidas por densa pilosidade. As folhas em geral são rígidas e coriáceas. Essas caracteristicas fornecem aspectos de adaptação às condições de seca (xeromorfismo). Devido à complexidade de seus fatores condicionantes, originam-se subdivisões fisionômicas distintas do Cerrado sentido restrito, sendo as principais o Cerrado Denso, o Cerrado Típico e o Cerrado Ralo, além do Cerrado Rupestre. 

Cerrado Sentido Restrito-SR, localizado na APA do Jalapão, TO.

Figura 3 - Cerrado Sentido Restrito-SR, localizado na APA do Jalapão, TO.


Campo Sujo

O Campo Sujo é um tipo fisionômico exclusivamente herbáceo arbustivo, com arbustos e subarbustos esparsos cujas plantas, muitas vezes, são constituídas por indivíduos menos desenvolvidos das espécies arbóreas do Cerrado sentido restrito.

Cerrado Campo Sujo, APA Jalapão, próximo da estrada Mateiros – São Félix do Tocantins, TO.

Figura 4 - Cerrado Campo Sujo, APA Jalapão, próximo da estrada Mateiros – São Félix do Tocantins, TO.


Cerrado Campo Sujo, APA Jalapão, próximo da estrada Mateiros – São Félix do Tocantins, TO.
Figura 5 - Cerrado Campo Sujo, APA Jalapão, próximo da estrada Mateiros – São Félix do Tocantins, TO.


Cerrado Campo Sujo, APA Jalapão, próximo da estrada Mateiros – São Félix do Tocantins, TO.
  
Figura 6 - Cerrado Campo Sujo, APA Jalapão, próximo da estrada Mateiros – São Félix do Tocantins, TO.

Cerradão

Cerradão é uma formação florestal com aspectos xeromórficos (resistência à seca), tendo sido conhecido pelo nome "Floresta Xeromorfa", tipificado como sendo "uma mata mais rala e fraca", (RIZZINI, 1963; CAMPOS, 1943, apud RIBEIRO & WALTER, 1998). Caracteriza-se pela presença de espécies que ocorrem no Cerrado sentido restrito e também por espécies de mata. Do ponto de vista fisionômico o Cerradão é uma floresta, mas floristicamente é mais similar a um Cerrado. O Cerradão apresenta dossel (copa) predominantemente contínuo e sua cobertura arbórea que pode oscilar entre 50 a 90%. A altura média do estrato arbóreo varia de 8 a 15 metros, proporcionando condições de luminosidade que favorecem a formação de estratos arbustivos e herbáceos diferenciados.

Cerradão, identificado no Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.
Figura 7 - Cerradão, identificado no Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.


De acordo com a fertilidade do solo, o Cerradão pode ser classificado como Cerradão Distrófico (solos pobres) ou Cerradão Mesotrófico (solos mais ricos), cada qual possuindo espécies características adaptadas a esses ambientes.

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Figura 8 - Cerradão, identificado no Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.


Cerrado Rupestre

Cerrado Rupestre, Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.O Cerrado Rupestre é um subtipo de vegetação arbóreo-arbustiva que ocorre em ambientes rupestres litólicos ou rochosos (áreas de afloramento de rochas). Possui cobertura arbórea variável de 5% a 20%, altura média de 2 a 4 metros, com estrato arbustivo-herbáceo também destacado. Pode ocorrer em trechos contínuos, mas geralmente aparece em mosaicos, incluído em outros tipos de vegetação. Possui estrutura semelhante ao Cerrado Ralo e um substrato de fácil diferenciação, uma vez que comporta pouco solo entre o afloramento de rocha. Seus solos litólicos são originados da decomposição de arenitos e quartzitos, pobres em nutrientes, ácidos, apresentando também baixos teores de matéria orgânica. No Cerrado Rupestre os indivíduos arbóreos concentram-se nas fendas entre as rochas, e a densidade é variável e dependente do volume de solo. Há casos em que as árvores podem dominar a paisagem, enquanto em outras a flora arbustiva-herbácea predomina; mas ainda assim com árvores presentes (RIBEIRO & WALTER, 1998). 

 

Cerrado Rupestre, Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.
Figura 10 - Cerrado Rupestre, Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.


Vereda

A Vereda é a fitofisionomia com a palmeira do Buriti (Mauritia flexuosa) emergente, em meio a agrupamentos mais ou menos densos de espécies arbustivo-herbáceas. As Veredas são circundadas por Campo Limpo, geralmente úmido, e os buritis não formam dossel como ocorre no Buritizal. Nas Veredas os buritis caracterizam-se por altura média de 12 a 15 metros e a cobertura varia de 5% a 10%. As Veredas são encontradas em solos hidromórficos, saturados durante a maior parte do ano. Geralmente ocupam os vales ou áreas planas acompanhando linhas de drenagem mal definidas, em geral sem murundus. Também são comuns numa posição intermediária do terreno, próximo as nascentes (olhos d'água), ou na borda de matas de galeria. A concorrência da Vereda condiciona-se ao afloramento do lençol freático, decorrente de camadas de permeabilidade diferentes em áreas sedimentares do Cretáceo e Triássico (RIBEIRO & WALTER, 1988). As Veredas exercem papel fundamental na manutenção da fauna do Cerrado pois atua como local de pouso para a avifauna, de refúgio, de abrigo, de fonte de alimento e de local de reprodução também para a fauna terrestre e aquática.

Vereda, Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, TO.
Figura 11 - Vereda, Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, TO.



Vereda, Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, TO.

Figura 12 - Vereda, Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, TO.



Vereda, Parque Estadual do Jalapão, proximidade da comunidade da Mumbuca, TO.

Figura 13 - Vereda, Parque Estadual do Jalapão, proximidade da comunidade da Mumbuca, TO.


Mata Ripária

Na definição Mata Ripária pode ser subdividida em duas categoria, Mata Ciliar e Mata de Galeria. A Mata Ciliar é definida como a vegetação florestal que acompanha os rios de médio e grande porte na região do Cerrado, em que a vegetação arbórea não forma galerias. Em geral essa mata é relativamente estreita em ambas as margens, dificilmente ultrapassando 100 metros de largura em cada. É comum a largura em cada margem ser proporcional à do leito do rio, embora em áreas planas a largura possa ser maior. Porém, a Mata Ciliar ocorre geralmente sobre terrenos acidentados, podendo haver uma transição nem sempre evidente para outras fisionomias florestais como a Mata Seca e o Cerradão.

Mata Ripária, Rio Parnaíba, Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.
Figura 14 - Mata Ripária, Rio Parnaíba, Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.


Fig15: Mata Ripária, Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.Por Mata de Galeria entende-se a vegetação florestal que acompanha os rios de pequeno porte e córregos dos planaltos do Brasil Central, formando corredores fechados (galerias) sobre o curso de água. Geralmente a Mata de Galeria localiza-se nos fundos dos vales ou nas cabeceiras de drenagem onde os cursos de água ainda não escavaram um canal definitivo. Essa fisionomia é perenifólia (caducifólia), isto é, não apresenta queda de folhas na estação seca. Quase sempre a Mata de Galeria é circundada por faixas de vegetação não florestal em ambas as margens, e em geral ocorrem uma transição brusca com formações savânicas e campestres. Essa transição é quase imperceptível quando ocorre com Matas Ciliares, Matas Secas ou mesmo Cerradões, o que é mais raro, embora seja diferenciada pela composição florística.

A altura média do estrato arbóreo varia entre 20 e 30 metros, apresentando uma superposição das copas que fornecem cobertura arbórea de 70% a 95%. No seu interior a umidade relativa é alta mesmo na época mais seca do ano. A presença de árvores com pequenos sapopemas (expansões tabulares encontradas no caule de algumas árvores) ou saliências nas raízes é frequente, principalmente nos locais mais úmidos. É comum haver grande número de espécies epífitas (plantas que apóiam na estrutura de outras plantas, sem parasitá-la), principalmente Orchidaceae, em quantidade superior a que ocorre nas demais formações florestais do Cerrado.


Mata Ripária, Rio Parnaíba, Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.
Figura 16 - Mata Ripária, Rio Parnaíba, Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.


Cerrado de Mata Seca

Sob a designação Mata Seca estão incluídas as formações florestais caracterizadas por diversos níveis de caducifólia (queda de folhas) durante a estação seca, dependentes das condições químicas, físicas e principalmente da profundidade do solo. A Mata Seca não possui associação com cursos de água, ocorrendo nos interflúvios (área mais elevada situada entre vales) em solos geralmente mais ricos em nutrientes. Em função do tipo de solo, da composição florística e, em consequência, da queda de folhas no período seco, a Mata Seca pode ser de três subtipos: Mata Seca Sempre-Verde, Mata Seca Semidecídua, a mais comum, e Mata Seca Decídua. Em todos esses subtipos a queda de folhas contribui para o aumento da matéria orgânica no solo, mesmo na Mata Seca Sempre-Verde. A altura média do estrato arbóreo varia entre 15 e 25 metros. A grande maioria das árvores é ereta, com alguns indivíduos emergentes.

Mata Seca, Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.
Figura 17 - Mata Seca, Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.

Na área alvo em estudo, esta fitofisionomia apresenta pouca expressão, no entanto, deve ser considerada na análise, por se tratar de vegetação significativamente ameaçada pelo desmatamento, e por apresentar uma imensa riqueza tanto em sua biodiversidade quanto em seus ambientes.


Mata Seca, Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.
Figura 18 - Mata Seca, Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.


Bioma Caatinga

A Caatinga é caracterizada por apresentar espécies de vegetação xerófita, isto é, vegetação adaptada ao clima árido, expressada pela sua caducidade (queda de folhas), por suas raízes profundas e pela folhagem adaptada para a retenção da umidade.


Vegetação característica de Caatinga, localizada no limite a uma estrada vicinal e uma residência, Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.
Figura 19 - Vegetação característica de Caatinga, localizada no limite a uma estrada vicinal e uma residência, Parque Nacional Nascentes do Rio Parnaíba, MA.